sexta-feira, 8 de julho de 2011

Poemas de Nazim Hikmet

Poemas de Nazim Hikmet (o mais renomado poeta turco)


Hoje é domingo 

Hoje é  domingo.
Hoje me deixaram ir ao pátio, para o sol,
Pela primeira vez.
Pela primeira vez em minha vida
Eu me choquei ao ver
O céu,
Quão longe está,
E que azul,
Que vasto é.
E lá  fiquei a observá-lo,
Imóvel,  pasmo.
Depois sentei-me sobre a terra
Com respeito e devoção.
Sentindo contra as costas a parede branca.
Quem quer saber das ondas que anseio por rolar,
Quem quer
Saber das lutas e do amor,
Quem quer
Sentir a liberdade?
Agora,
É só o solo, o sol e eu...
Estranhamente alegre sob o céu. 
1973


A Nogueira


Eu, cabeça, espuma, espuma, nuvens.
Mar, que, em mim adentro, em mim afora...
Sou a nogueira
do parque “Casa das Rosas”.
De nó  a nó, de lasca a lasca,
Velha e precisada,
E que ninguém, nem a polícia olha. 
A nogueira do parque “Casa das Rosas”.
Minhas folhas ágeis agem como peixe em água,
Minhas folhas finas, puras como lenços da mais fina seda,
Puras pelo ar.
Colhe, minha rosa, a idade de teus olhos.
Minhas folhas que são mãos, e tenho cem mil delas,
Bela, pra tocar-te, e toco-te com elas.
Tu e Istambul.
Minhas folhas, que são olhos, e olho em desvario,
Vejo-te com cem mil olhos,
Tu e Istambul. 
Cem mil corações, que batem, batem, batem...
Minhas folhas... 
Sou a nogueira do parque “Casa das Rosas”,
Que ninguém, nem a polícia olha. 


Três Ciprestes


Em frente a minha porta havia três ciprestes
Três ciprestes
Três ciprestes balançando ao vento
Três ciprestes
Suas raízes fundas, suas cabeças celestes
Três ciprestes 
Uma noite o inimigo os vendo
Três ciprestes
E fui morto em minha cama
Três ciprestes
Arrancados pela gana
Três ciprestes
E assados aos pedaços
Três ciprestes
Sobre o mármore de um forno
Três ciprestes
Que iluminam com seu sangue o aço morno
Três ciprestes


Autobiografia


Nasci em 1902
E, nunca tendo voltado a minha terra natal-
Não gosto de olhar para trás –,
Aos três anos, em Alepo,  fui um neto de Pashá.
Em Moscou, aos dezenove, era estudante da Universidade Comunista de Moscou.
E aos quarenta e nove, eu voltava, convidado do partido.
E fui poeta desde os quatorze.
Há quem saiba tudo sobre plantas, peixes,
Eu, sobre separação.
Há quem saiba os nomes das estrelas todas,
Eu recito ausências.
Andei dormindo em prisões e em grandes hotéis.
Conheci a fome e até mesmo a greve de fome, e não há nada de que não provei. 
Aos trinta e seis, habitei quatro metros quadrados, ano e meio,
Aos cinqüenta e nove, voei de Praga a Havana por dezoito horas.
Sem ter visto Lênin, vi seu túmulo em vinte e quatro.
Em sessenta e um, eu o visito em seus livros.
Tentaram me afastar de meu partido, não deu certo.
Mas não me esmagaram os astros decadentes.
Em cinqüenta e um,  naveguei, junto a um jovem amigo, o dente da morte.
Em cinqüenta e dois, passei quatro meses paralisado por um coração partido esperando a morte. 
Tinha ciúmes das mulheres que amava,
Não invejo Charles Chaplin nem um pouco,
Decepcionei-as,
Mas não falei de meus amigos pelas costas. 
Bebi, nem todo dia,
E, que bom, ganhei o pão honestamente.
A alguns menti sem embaraço,
Menti pra não ferir,
Menti, também, só por mentir.
E andei em trens e aviões em que ninguém andava. 
...E  fui à ópera
A maior parte das pessoas nem ouviu falar de ópera,
E, desde os vinte e um, não tenho ido aos lugares aonde elas vão,
Mesquitas e igrejas, templos, sinagogas, feiticeiros.
Mas leram-me o café.
Meus escritos foram publicados em trinta ou quarenta línguas
E banidos da minha Turquia, de meu turco.
Ainda não tive câncer,
Nada indica que terei.
E nunca serei um primeiro ministro ou algo assim,
Nem o desejei.
Também não fui mandado à guerra,
Não cavei abrigos no fundo da noite,
E nunca tive que chegar à terra em aviões de mergulho,
Mas me apaixonei aos quase sessenta.
Em suma, amigos,
Mesmo que eu esteja hoje, em Berlim, me esvaindo de tristeza,
Posso dizer que vivi como um ser humano,
E quem sabe
Quanto tempo ainda...
E o que me acontecerá ainda...

O Salgueiro Chorão


A água corria.
Refletia em seu espelho
Os salgueiros que, em seu ventre,
Lavavam os cabelos!
Pra golpear esses salgueiros,
Em fogo, nus, também corriam
Os cavalos ruivos, como cavaleiros,
Ao lugar do sol  poente. 
De repente
Um cavaleiro
Como ave,
De quem tinham machucado a asa,
Cai de seu cavalo.
Ele não grita.
Ele não chama
Os que passam. 
Ele só  olha com uns olhos cheios
Para os cascos cintilantes de seus companheiros,
Que sumiam. 
Ai que lástima!
Que pena que é não cavalgar de novo os dorsos
Espumosos dessas feras galopantes,
Não brandir a sua espada aos inimigos brancos!
Gradualmente vai morrendo o bater dos cascos,
É que já devem estar perdidos no lugar do sol poente. 
Cavaleiros, cavaleiros, vermelhos cavaleiros,
Cavalos, vales, covas, cavam
Valas, cavam curvas...
Asas vales...
Cavalos...
Cavalo...
Cav... 
E a vida que passou como cavalos ruivos e alados.

2 comentários:

  1. Rica ederim. Benim için Türkiye'den kültürel değerleri Brezilya ve diğer kültürlerle buluşturmak, diğer ülkelerden kültürel değerleri ise Türkiye'ye taşımak büyük bir zevk. Tabii Aline gibi kültürel zenginliklerin gerçekten kıymetini bilecek ve onları kendi ülkesine, diline dönüştürebilecek nadir insanlarla paylaşmak ise bir onurdur. Keşke insanlığı cehalet, şiddet, fakirlik, savaş ve terör sarmalından kuratarabilirsek, kültürel değerleri derinden kavrayacak insanların sayısını artırabilsek, şu küçük dünyamız kimbilir ne kadar farklı olurdu! Nazım gibi sanata ve edebiyata katkıda bulunan eşsiz insanların özlemi de bu değil mi?

    Özgün Arman

    ResponderExcluir
  2. Magnífico Poeta! Poemas como gemas lúcidas.

    ResponderExcluir